sábado, 22 de junho de 2013

entrevista com o slash ex-guns

Slash
Não dá para dizer que o guitarrista Slash tenha sorte com os vocalistas de suas bandas. Depois de se desentender com Axl Rose e abandonar o Guns N'Roses no meio dos anos 90, ele ainda se jogou de cabeça no Velvet Revolver - só para dar de cara com outro cantor problemático, Scott Weiland. O que fazer, então? O caminho óbvio seria uma carreira solo, sem grandes empecilhos. Mas Slash, o primeiro disco do músico sem as vozes problemáticas, tem mais de uma dúzia de cantores diferentes - de Iggy Pop a Ozzy Osbourne, de Fergie a Lemmy Kilmeister. Segundo ele, que quer vir ao Brasil em outubro, foi como tirar férias.
Como foi o processo de composição das músicas? Você escreveu as faixas junto com cada cantor?
Eu escrevia o instrumental das músicas e pensava em quem seria uma boa escolha para o vocal, quem teria o estilo certo para aquela melodia. Aí eu mandava a versão demo para a pessoa.

Não foi difícil lidar com tantas agendas diferentes para levar essas pessoas ao estúdio? Ou cada um gravava sua parte sozinha?
Na época em que gravei, todo mundo estava meio que por perto. A Fergie estava trabalhando no disco do Black Eyed Peas, o Ozzy Osbourne e o Kid Rock estavam gravando os discos deles... O Chris Cornell e o Ian Astbury não estavam fazendo nada. Todo mundo estava disponível, foi como se tudo estivesse predestinado! [risos] Foi sorte. Só tive de esperar umas duas pessoas que estavam viajando em turnê. Uns 80% do disco foi gravado no mesmo mês, agosto passado. Todo mundo foi até o estúdio. Fizemos um álbum à moda antiga - gravamos tudo ao vivo, em fita, sem Pro-Tools. Só dois dos vocais foram feitos em lugares diferentes, o do Kid Rock, em Michigan, e o do Ozzy, que foi a um quarteirão de onde estávamos, na casa dele. O resto todo foi até o meu estúdio.

Você acabou gravando mais músicas do que cabiam no disco. Quantas foram?
Dezenove. Uma era em japonês, então achei que ela não seria bem aceita pela cultura ocidental - apesar de ser uma música muito boa, mas como tem letra em japonês, deve ser lançada como single no Japão. Uma outra, "Baby Can't Drive", tem o [ex-baterista do Guns N'Roses] Steve Adler, o [baixista do Red Hot Chili Peppers] Flea, [a vocalista do Pussycat Dolls] Nicole Scherzinger e Alice Cooper e está na edição sul-americana do CD. Tem uma música com o [ex-Queens of the Stone Age] Nick Oliveri, que é uma versão diferente de "Nothing to Say". Essa você consegue achar na internet. Não deu para colocar tudo no mesmo álbum, mas pretendemos fazer uma edição especial mais tarde, juntando tudo.

O que você procurava nesses cantores? Tinha em mente uma linha a seguir?
Não. É até meio engraçado, porque é típico de tudo que eu faço. Eu simplesmente faço. Não penso em conceitos, esse tipo de coisa. Vou lá e faço. Originalmente, estava só me divertindo ao escrever essas músicas sozinho. E depois veio o prazer de colaborar com esses vocalistas, ouvir as sugestões de arranjo que eles tinham - foi um processo bem aberto. Foi uma experiência divertida, aí simplesmente juntei tudo [em um CD].

Por que você demorou tanto para gravar um disco solo? Você teve o Slash's Snakepit, mas era uma banda, não?
É, o Snakepit certamente era uma banda. Só tinha o meu nome antes porque a gravadora me forçou. Seria uma banda qualquer. É engraçado, formei o Snakepit porque me sentia frustrado com o Guns N'Roses, precisava de um descanso. E agora fiz este disco porque me frustei com o Scott [Weiland, ex-cantor do Velvet Revolver], com todo o tempo que passei tendo de lidar com ele. Precisa fazer algo diferente, foi isso que aconteceu. Quando você faz parte de uma banda grande, há vários problemas - com o vocalista, empresários, gravadoras. Nem sempre é muito divertido. Depois de uma turnê grande, na qual você teve de aturar tudo isso, dá uma sensação de "preciso me afastar um pouco".

Quando vi que seu disco teria tantos cantores, pensei: o Slash teve problemas com dois vocalistas...
[Interrompe]... Por que ele quis trabalhar com tantos agora? Eu sei. [risos] Na época, isso nem passou pela minha cabeça. O conceito era mais "vou fazer um trabalho que tenha convidados especiais". Porque eu era sempre o convidado nos CDs dos outros. Fiz isso por quase 20 anos. Só depois me liguei que eu teria 19 cantores, sendo que já havia tido experiências ruins com dois. Só que todo mundo no disco foi incrível e profissional. Educados, simpáticos... E não que eles tenham se esforçado, eles são naturalmente assim. É bom ver que existem pessoas assim, confortáveis com o que fazem, sem problemas. Foi muito saudável para mim, mudou a impressão que tinha sobre cantores. Minha concepção sobre cantores já estava ficando muito ruim! [risos] Vi que foi só uma coincidência eu ter trabalhado com os dois mais complicados...

Nem passou pela sua cabeça assumir os vocais?
Talvez esse dia chegue, mas tenho como regra não cantar. Não gosto do som da minha voz, não gosto nem de murmurar. Sou um desses caras que não gosta de fazer isso. Mas talvez eu decida que quero me expressar, escrevendo letras e cantando. Por enquanto não tenho o menor interesse nisso.

Depois de fazer o disco, quando você notou que teria problemas para fazer uma turnê sem os convidados?
Depois de terminar o álbum e me divertir muito, comecei a pensar nisso, nos shows. Então achei que deveria montar uma banda e escalar alguém para cantar. Com isso, testei algumas pessoas para a vaga. Curiosamente, o Myles Kennedy cantou na última faixa que gravamos. Havia só duas pessoas que eu só conheci nas gravações: ele e o Roco DeLuca. Ao gravar "Starlight" com o Myles, fiquei impressionado. Convidei-o para a turnê e ele topou. É o cara perfeito, ele canta qualquer coisa. Vi ele cantando "Sweet Child O'Mine" no YouTube e pirei. Fizemos nosso primeiro show ontem à noite, no Roxy [em Los Angeles]. Acho que todo mundo vai gostar desses shows.

O Myles foi testado para o lugar do Robert Plant, na reunião do Led Zeppelin que acabou não acontecendo.
E foram eles quem chamaram! [risos] Foi assim que eu ouvi falar dele. Fui o último a saber da existência dele. Acho que... Estava nas cartas do destino. Na minha banda ele não toca guitarra, só canta. Quem está acostumado a ver ele se escondendo atrás do instrumento vai ter uma surpresa. Ele é muito divertido. E ele canta muito bem as músicas do Guns.

Você pensa em tocar Guns e Velvet Revolver nesses shows?
Sim, o repertório tem cinco canções novas, quatro do Guns e quatro do Velvet Revolver. Umas duas do Snakepit. Funciona bem, sabe?

Você sente uma pressão maior ao se apresentar como artista solo?
Ahn... Não sei como chamar o que sinto. Certamente sinto uma diferença ao ter a minha banda, não só fazendo parte de uma. Mas não acho que exista uma pressão. Na verdade, não sei. Não me sentei para pensar no assunto. O sentimento é diferente ao ver o seu nome na marquise.

Muitas pessoas não misturam pop e rock. Como você chegou, por exemplo, a essa parceria com a Fergie?
Eu mesmo não me considero um cara do pop, apesar de ter tocado com um monte de gente que é. Acho que muitos desses que me chamaram no passado transcendem uma definição de gênero, como Michael Jackson. Ele pode ser o "Rei do Pop", mas também é um dos maiores performers de todos os tempos. E, em outros casos, os artistas são tão bons que o estilo deles nem importa. Como artista, adoro inserir rock and roll em locais inesperados. Com a Fergie, foi bem mais simples: toquei com o Black Eyed Peas em um evento beneficente. Ela cantou um medley de rock e foi maravilhoso, ela tem uma habilidade incrível. Depois disso, comecei a tocara com ela - simplesmente porque ela é foda. As principais influências dela vieram do rock, mas para garotas é muito difícil nessa área, não há muitas oportunidades. Ela é a melhor cantora desde Joan Jett. Acho que a música mais surpreendente do meu disco é a que gravei com Adam Levine [do Maroon 5], "Gotten". É lenta, uma balada bem limpa.

A Fergie quer gravar um disco de rock.
Sim, e ainda vai. Trabalhei em uma faixa com ela, que é indescritível. A letra é completamente impetuosa, hardcore, mas ainda assim feminina. Não é o que você esperaria dela! [risos] Nem se eu te dissesse a letra você acreditaria. Então, sim, ela é roqueira. Ela só está em um grupo pop.

Vocês deveriam chamá-la para a vaga do Scott no Velvet Revolver.
Não... É uma banda de homens, só homens. Antes do Scott, nós até fizemos um teste com uma mulher - Beth Hart - e foi uma experiência legal. Ela chegou a escrever uma letra muito boa para "Falling to Pieces". Só que parecia haver algo errado. Não dá para ter uma garota em um grupo que tem um monte de caras supermasculinos. Só pensaríamos em comê-la. [risos]

E como rolou a participação de Dave Grohl? Nos anos 90 houve uma briga histórica entre Nirvana e Guns N'Roses.
Não foi com o Nirvana e o Guns N'Roses, foi com o Axl. Eu não tive nada a ver com aquilo, nem me lembro o que gerou a briga. Foi algo que rolou de repente entre Axl, Kurt [Cobain] e Courtney [Love]. Acho que depois o Axl até atacou o Dave, mas eu, o Duff [McKagan, ex-baixista do Guns] não tivemos nada com aquilo. Eu nem dei atenção para aquilo. Sou amigo do Dave Grohl desde o meio dos anos 90.

Como você chegou ao Josh Freese, que tocou bateria no seu disco? Ele é, inclusive, co-autor da faixa-título do Chinese Democracy.
Eu sei! Acho que o conheci depois dele ter trabalhado com o Axl. Acho que o encontrei no elevador e disse: "Você é o cara que tocou bateria naquela banda da qual eu nem faço parte". [risos] Nessa época eu ainda estava contra o Guns N'Roses. Ele é um baterista fenomenal, acabamos amigos. Quando o convidei para este projeto, ele estava em turnê com o Nine Inch Nails. Aí um dia ele me ligou e perguntou o que eu estava fazendo. Respondi: "Estou procurando um puto de um baterista!" Ele é um cara muito avançado, eclético musicalmente, é um cara de família.

Você não pensou em ligar para o Axl Rose e pedir para ele cantar em uma das suas músicas?
De forma pouco realista, essa ideia passou pela minha cabeça, sim. Mas, você sabe, isso nunca aconteceria. [risos]

Deve ser um saco ouvir as muitas perguntas sobre uma possível volta da formação clássica do Guns.
É que não há nada! Eu continuo repetindo: saí da banda em 1996 e nada aconteceu depois disso. Não houve nada que pudesse levar as pessoas a acreditarem que isso pudesse acontecer. Sem mencionar que... [silêncio] Ah, nada.

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